A Chegada do Espiritismo ao Brasil (Parte 2)
Por Elaine Maldonado.
No artigo anterior vimos que o espiritismo primeiramente ganhou adeptos na Bahia, na década de 1860, com a formação do “Grupo Familiar de Espiritismo” e a divulgação dos ensinamentos de Kardec no periódico “Echos de Além-túmulo”, entre outros.
Não tardou, porém, para que a doutrina ganhasse força na cidade do Rio de Janeiro, então capital do Brasil. Segundo dados de O Reformador, em 02 de agosto de 1873 era fundada no Rio de Janeiro a “Sociedade de Estudos Espiríticos Grupo Confúcio”, primeiro núcleo espírita da capital e que posteriormente deu origem a Sociedade de Estudos Espíritas Deus, Cristo e Caridade, em 1876.
Vários grupos espíritas se formaram na década de 1880 e 1890, como o Grupo Espírita Caridade, Congregação Anjo Ismael e o Grupo Espírita Fraternidade, entre vários outros, o que nos mostra como a doutrina estava ativa e conquistando vários adeptos neste período.
No ano de 1875 é lançada a Revista Espírita sob a direção de Antonio da Silva Neto, além da primeira edição de O Livro dos Espíritos, traduzido por Joaquim Carlos Travassos e editado pela Editora B.L. Garnier, e de O Livro dos Médiuns, O Céu e o Inferno e o Evangelho Segundo o Espiritismo, também pela Editora Garnier, a mais importante do Brasil na época.
A Revista Espírita teve seis números apenas e foi o segundo periódico lançado no Brasil (o primeiro foi o Echo d´além Túmulo, na Bahia, como já vimos no primeiro artigo). Em nota sobre seu lançamento, o Jornal O Globo do dia 26 de janeiro de 1875 a classifica como “publicação mensal de estudos psicológicos” e traz o índice das matérias, entre as quais encontramos: vocabulário espírita, diferentes naturezas de manifestações, respostas dos espíritos a algumas questões, etc.[1]
Apesar de sua curta duração, a Revista Espírita ainda hoje serve como uma boa base para estudo da doutrina. Em seus números encontramos explicações sobre as categorias de sonhos, sobre a morte do ponto de vista espírita (matéria na qual se faz crítica as formas de vida pós-morte pregadas pela igreja católica: ou penas eternas, ou contemplação eterna), há também matérias sobre curas através de magnetizações sendo a mais interessante a que relata a cura de uma fratura no braço de uma médium através da intervenção dos espíritos, seguida de diversas justificativas para convencer os que, já previam seus editores, se declarariam incrédulos diante de tal fato. Era, enfim, um periódico de divulgação e defesa do espiritismo.
No ano de 1883 é lançado O Reformador, revista de divulgação da doutrina, editada por Augusto Elias da Silva, português radicado no Brasil. No ano seguinte, mais precisamente em 02 de janeiro de 1884, a FEB (Federação Espírita Brasileira) é fundada, também por Augusto Elias, e O Reformador é a ela incorporado tornando-se seu principal veículo de divulgação, continuando ativo até hoje[2].
O primeiro presidente da FEB foi Ewerton Quadros, major do exército e pessoa de grande prestígio social. Na lista de seus fundadores, aliás, constam nomes eminentes na Corte carioca.
Um fato que chama muito a atenção é que a FEB desde o início se posicionou contra a escravidão, empreendendo uma campanha a favor da abolição e dizendo nas páginas de O Reformador que ninguém que possuísse escravos poderia ser considerado verdadeiro espírita.
No próximo artigo, veremos com mais detalhes esse assunto.
[1] Refiro-me à edição brasileira da Revista Espírita. Já a edição francesa, que teve seu primeiro número publicado em 12 de janeiro de 1858 e que teve supervisão direta de Allan Kardec até seu desencarne, continua sendo editada até os dias de hoje.
[2] Quem tiver interesse em consultar edições da revista O Reformador, basta acessar o site da FEB: www.febnet.org.br
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