A mente e a mediunidade
Gustavo Henrique de Lucena
(Artigo publicado em Outubro/ 2017 na Revista Internacional de Espiritismo – Editora O Clarim.)
Comumente nos referirmos ao cérebro como a própria mente, contudo eles são estruturas diferentes e com funções distintas. O cérebro é a ferramenta, a mente é o comando. O instrutor Calderaro coloca de forma clara para André Luiz a relação cérebro e mente(1). “O cérebro é o órgão sagrado de manifestação da mente, em trânsito da animalidade primitiva para a espiritualidade humana.”
Nos parece claro o papel estruturante da mente. Ela é a essência, onde estão os registros do nosso fazer ao longo do tempo, as construções que erigimos para nossa estrada evolutiva e a direção que damos aos passos na vida. As ideias surgem das relações íntimas na mente. O pensamento forma-se a partir do dinamismo das ideias que regem o ser. A força de vontade fornece o impulso, a diretriz do pensamento. O instrutor Albério, esclarece a André Luiz:
“Nossa mente é, dessarte, um núcleo de forças inteligentes, gerando plasma sutil que, a exteriorizar-se incessantemente de nós, oferece recursos de objetividade às figuras de nossa imaginação, sob o comando de nossos próprios desígnios.
A ideia é um “ser” organizado por nosso espírito, a que o pensamento dá forma e ao qual a vontade imprime movimento e direção.
Do conjunto de nossas idéias resulta a nossa própria existência.” (2)
A qualidade das relações harmoniosas do universo interior, relaciona-se com as escolhas e os desígnios que construímos. Portanto, a mente em equilíbrio é estrada para o futuro.
A importância das vibrações e das interações mentais são tomadas como base, por um grupo de espíritos, na organização de um modelo teórico sobre as estruturas da mente. No livro “Mentomagnetismo e Espiritismo”, organizado pelo confrade espírita Vitor Ronaldo Costa, há o lançamento inicial deste modelo. Nele há uma explicação de como a mente se organiza em departamentos energéticos. Os campos mentais são um desses departamentos, eles se formam por similaridade vibracional.
Destacamos um campo mental, relacionado à mediunidade, no qual o benfeitor Lancelin denomina de campo de coordenação protetiva. Ele age como um filtro, a proteger o médium de interações mentais desarmônicas, como também, ajuda a sincronizar o intercâmbio mediúnico. A formação e a funcionalidade deste campo estão relacionadas ao estudo, ao conhecimento, a sabedoria de viver, ao caráter do médium e as intenções com o uso da mediunidade.
Ressaltaremos a seguir, algumas relações mentais sutis, porém profundas, em que o campo de coordenação protetiva age nos recônditos da mente, a equacionar as comunicações. Relembro que o referido campo mental, com ação de filtro energético e de sincronização, está ligado diretamente às construções internas do medianeiro.
O pensamento é um veio comunicador da mente, um raio de ação que se expande; é o vibrar energético do pensamento que dá o tônus e capacita sintonizar com correntes energéticas similares. Emmanuel elucida sobre esta integração:
“A mente, em qualquer plano, emite e recebe, dá e recolhe, renovando-se constantemente para o alto destino que lhe compete atingir.
Estamos assimilando correntes mentais, de maneira permanente.
De modo imperceptível, “ingerimos pensamentos”, a cada instante, projetando, em torno de nossa individualidade, as forças que acalentamos em nós mesmos.” (3)
Os raios vibráteis do pensamento podem ser caminhos de intercâmbio. Portanto, quando é estabelecido o acesso, o espírito com intenções maléficas pode promover desarmonias energéticas nas comunicações internas da mente. Por conseguinte, existe a possibilidade de surgir uma ideia ressonante, como nos alerta o benfeitor Lancelin: “…o pensamento emitido pela fonte externa se relaciona intimamente com as ideias que palpitam na intimidade consciencial do médium. Nesse vibrar consoante, pode surgir uma ideia conjunta…” (4)
A junção de ideias ocorre da seguinte forma: uma ideia externa, emitida pelo espírito, se relaciona com uma ideia localizada no íntimo consciencial do encarnado. Assim, por serem ideias próximas, elas vibram em consonância. Por conseguinte, surge uma ideia que parece ser de autoria própria, mas na realidade é conjugada com uma mente exterior. Esta forma sutil de influência, pode enraizar na mente, através de um contato mais constante e até se tornar uma obsessão na modalidade de fascinação, que é sempre uma situação complexa para o desenlace energético.
Existe outro detalhe que pode ocorrer na interação vibratória entre mentes, que é as informações, sentimentos, desejos da mente externa entrarem em sintonia vibracional com os campos mentais do receptor, fazendo-os vibrar. O problema desta ocorrência é que desarmonias do passado podem emergir e evidenciar-se na consciência de vigília. O passado no interior da mente, guardado pelo processo reencarnatório e evolutivo, vem à tona e os impulsos interiores, os sentimentos, as perdas, podem fazer a mente, ainda inconstante do encarnado, perder o equilíbrio e a direção condutiva da vida.
O campo mental de coordenação protetiva é uma área mental que age como modulador e como filtro de energias. Contudo, quem dá o padrão vibratório de funcionamento do campo mental somos nós mesmos. Tenhamos o cuidado de harmonizar o universo mental com ações fraternas. Vigiemos nossas intenções com a atividade mediúnica, percebamos as construções interiores que nos proporcionam seguir adiante. Não podemos fugir do compromisso com o bem. A caridade, o amor em ação, fornece ao medianeiro a fortaleza de vibrar em consonância com o Cristo.
1 – André Luiz/Fco. C. Xavier: No mundo maior, p. 59, 19ª edição, FEB
2 – André Luiz/Fco.C.Xavier:Nos Domínios da Mediunidade, cap. 1, pág. 17, 8ª edição, FEB.
3 – Emmanuel/Fco.C.Xavier: Roteiro, p. 112, 8ª edição, FEB.
4 – Mentomagnetismo e Espiritismo: p. 132, 1ª edição, O Clarin.
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