Publicado em 15 de novembro, 2022 | por Centro Paz e Amor
0AMOR E NÍVEIS DE CONSCIÊNCIA
O AMOR E SEUS NÍVEIS DE CONSCIÊNCIA
“O amor é de essência divina, e todos vós, do primeiro ao último, tendes no fundo do coração, a centelha desse fogo sagrado. É fato, que já haveis podido comprovar muitas vezes, este: o homem, por mais abjeto, vil e criminoso que seja, vota a um ente ou a um objeto qualquer viva e ardente atenção à prova de tudo quanto tendesse a diminuí-la e que alcança, não raro, sublimes proporções.”
(O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XI, item 9)
O amor, no espírito imortal, como tudo que evolui, segue os ciclos de amadurecimento, obedecendo ao esforço do seu portador dentro do espaço-tempo em que se movimenta.
Pode-se mesmo comparar o desenvolvimento do amor às etapas etárias da infância, da adolescência, da madureza e da velhice, e, respectivamente, com as estações da natureza: a primavera, o verão, o outono e o inverno.
Na estação primavera ou na fase infantil, metaforicamente, o ego experimenta uma única necessidade no que tange ao amor: a de ser amado. Tudo deve funcionar, em regime de exclusividade, ao redor de suas carências a serem atendidas.
Como uma criança, a pessoa imatura se coloca bem no centro do mundo, logo estabelecendo uma dependência dos outros, que assumem a posição de provedor, de nutridor, de protetor etc. Deste modo, o indivíduo se vincula a um pai, ou a um esposo, ou a qualquer outra pessoa que cumpra essa função nutridora de um ego imaturo.
Na estação do verão, ou na fase da adolescência, alegoricamente, o ego considera a outra pessoa na relação amorosa, mas ainda está demasiadamente fixado em si mesmo, fazendo, assim, do outro entrevisto, a fonte de atendimento de suas demandas em primeira ordem. Ou seja, primeiro eu, segundo eu, terceiro eu… depois você! Todavia, já inclui o outro indivíduo como fazendo parte da sua manifestação amorosa, porém ainda de forma muito desproporcional, porque, na correspondência sentimental, ele devolve a afetividade num nível muito aquém, comparado àquela que recebe.
Na estação outonal, ou no período adulto, figurativamente, o ego se apresenta maduro na interação amorosa. Por conseguinte, há uma busca de cumplicidade na troca emocional, ou seja, anseia-se por um amor-partilha, ombro a ombro, de “iguais” no tônus afetivo.
Na estação invernal, ou na fase do ancião, simbolicamente, o ego saboreia uma única vocação no campo do amor: amar. Existe uma sabedoria que exala amor para tudo e todos, constituindo-se em doação plena.
Assim que comeram, Jesus diz a Simão Pedro: Simão, (tu) me amas mais do que a estes? (Ele) lhe diz: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. (Jesus) diz a ele: Alimenta os meus cordeiros. Novamente, (ele) lhe diz pela segunda vez: Simão, (tu) me amas? (Ele) lhe diz: Senhor, tu sabes que te amo. (Jesus) diz a ele: Apascenta as minhas ovelhas. (Jesus) diz a ele pela terceira vez: Simão, (tu) me amas? Pedro entristeceu-se por lhe ter dito pela terceira vez “tu me amas?”, e lhe diz: Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que te amo. (Jesus) lhe diz: Alimenta as minhas ovelhas. (…) Segue-me.
Há três instâncias de amor solicitadas por Jesus a Pedro, e uma quarta consagrada no próprio amor de Jesus, naturalmente, num nível acima daqueles solicitados ao discípulo.
O idioma grego nos remete a quatro formas de expressar o amor na retratação desta passagem do Evangelho narrada por João.
Assim, didaticamente, podemos considerá-las como níveis de consciência amorosa, assemelhando-se às estações da Natureza:
- Amor-porneia (a primavera):
Amor só para mim. Só eu. Você para mim.
- Amor-eros (o verão):
Amor para mim, e depois para você. Eu… e depois você. Primeiro eu, depois você.
- Amor-fíleo (o outono):
Amor entre nós. Eu e tu. Nós dois juntos.
- Amor-ágape (o inverno):
Amor a partir de mim. De mim para você.
A sequência demonstra um processo de amadurecimento progressivo na dinâmica amorosa em que o espírito avança evolutivamente.
Existe um padrão amoroso predominante na maneira de ser de cada pessoa, configurando o seu grau de consciência. Todavia, quase sempre se percebe um mosaico, uma multiplicidade de qualidades amorosas mencionadas e presentes no comportamento cotidiano das criaturas, a despeito da prevalência de um estilo de vida, caracterizando o nível evolutivo em que o espírito se encontra.
O Novo Testamento, João 21:15 a 19.
AMOR-PORNEIA
No nível porneia, o ego se coloca em relação ao amor de maneira captativa, faminta. É a hora de nutrir-se, a fim de assegurar um bom desenvolvimento. É natural esta fase no desenvolvimento da consciência. Neste período, ainda somos completamente imaturos, carecendo de apoio e de acompanhamento para o nosso crescimento, tal como sucede, comparativamente, ao feto perante a mãe, ou ao analfabeto ante o professor de ensino das primeiras letras.
Superada essa etapa de completa imaturidade – o nível porneia –, avançamos ainda manifestando áreas de amor-porneia, agora reveladas setorialmente, em alguns departamentos da vida, quando nos apresentamos crus, verdes, “crianças”, muito dependentes de ajuda externa, precisando continuar nossa jornada evolutiva eliminando aqueles nichos de carência que persistem em certas seções da nossa existência.
O desafio está em identificar, ao analisarmos as nossas atitudes porneias, se elas apenas revelam nossa imaturidade natural, ou se representam uma fixação indébita e nociva por estarem em desacordo com a nossa real necessidade evolutiva naquele momento. A primeira circunstância é a do espírito em seu movimento normal de evolução, qual acontece com um fruto verde que ainda precisa de tempo absorvendo a seiva nutriente, a fim de amadurecer; a segunda é a resistência do espírito rebelde em avançar, tal como um feto que se demora no útero além dos nove meses, “insistindo” em não nascer.
Distinguirmos e separarmos uma situação da outra requer autoconhecimento por meio de apurada auto-observação, de reflexão continuada, a fim de, em seguida, promovermos a ação transformadora adequada.
É por isso que devemos perscrutar a verdadeira motivação da nossa alma, quando:
– prendemos o esposo/esposa, determinando que atenda todos os nossos pedidos, alegando subjetivas impossibilidades;
– amarramos, aos nossos passos, afetos caros, suprimindo-lhes a liberdade sob a alegação de inseguranças internas intransponíveis;
– sugamos, emocional e financeiramente, nossos pais à exaustão, argumentando impossibilidades próprias de emancipação;
– “mamamos” no governo público, mencionando direitos relativos a uma invalidez duvidosa;
– exploramos amigos, trazendo à baila carências que nunca cessam;
– retemos nossos filhos no lar, justificando dependências questionáveis;
– sujeitamos nossos colegas de profissão, aludindo a despropositadas deficiências;
– etc.
Enfim, em algumas das situações citadas, o amor-porneia pode ser como o fruto verde, apenas aguardando um pouco mais de tempo (de seiva) para madurar, mudar de atitude; entretanto, a maioria das ocorrências assinaladas fala da possibilidade da postura porneia como de um fruto em “apodrecimento”, posto que possa estar significando preguiça ou comodismo; resistência inconsciente ou cristalização doentia; insistência em permanecer na zona de conforto ou inércia… Tudo travestido das mais diversificadas alegações, mas que, em verdade, são conteúdos de vida aguardando mudanças urgentes.
AMOR-EROS
O ego neste nível se apresenta mais diferenciado que no amor-porneia, já expressando o sentimento de reconhecimento do outro na relação amorosa, configurando o seu amadurecimento, não obstante ainda esteja demasiado centrado em si mesmo, posto que tome a outra pessoa num status de coadjuvante para se afirmar como o ator principal, lugar que sempre almeja ocupar no palco existencial em se apresenta.
Aqui Eros se ama através do outro. O outro é seu espelho que lhe permite se admirar narcisicamente. Não é capaz de amar a outra pessoa por ela mesma. A importância do outro está na medida em que este lhe serve de apoio, de sustentação, de ajudante, e por este motivo reconhecido.
De modo idêntico ao que foi dito sobre a dinâmica do amor-porneia, pode-se dizer do amor-eros, ou seja, o indivíduo pode estar situado, naturalmente, nesse nível de consciência, nesse estágio evolutivo, vivendo as experiências que vão amadurecê-lo, a fim de passar para outra etapa evolutiva consciencial; ou, então, a pessoa pode estar se “agarrando” nessa instância disfuncionalmente, pois que já deveria ter avançado, mas não o fez por escolha própria, gerando sofrimento desnecessário como quem teimasse em manter-se calçando um sapato antigo, rejeitando outro de número maior, adequado ao crescimento do seu pé.
Assim, podemos questionar em várias situações de vida se o amor-eros está vivendo, normalmente, o seu tempo de maturação, ou se já está “fora do ponto”, criando sofrimento, quando:
– faz questão de mostrar-se ao parceiro esteticamente em boa forma, para demonstrar o seu próprio valor, como quem apresenta um troféu;
– identifica-se pelo sobrenome importante de sua família, a fim de assegurar para si acesso franqueado aos ambientes sociais;
– fala do seu sócio profissional respeitável como meio indireto de evidenciar seu desejado valor pessoal;
– apresenta seu filho que se destaca no esporte ou na cultura, com o objetivo de receber os louros de ser pai ou mãe;
– comenta sobre a figura parental (pai ou mãe) de reconhecido prestígio popular buscando, exclusivamente, receber as glórias de ser seu filho;
– anda na escola com amigos de status na comunidade, para ganhar visibilidade e importância social perante seu grupo de convivência;
– divulga as visitas que faz aos profissionais renomados, como se fossem pódios, atento em obter projeção e elogios dos seus interlocutores nas redes virtuais;
– etc.