Publicado em 12 de julho, 2018 | por Centro Paz e Amor
0Lição em Jerusalém
Pelo Espírito Pelo Espírito Irmão X (Humberto de Campos).
Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
Livro: Lázaro Redivivo. Lição nº 17. Página 85.
Muito significativa a entrada gloriosa de Jesus em Jerusalém, de que o texto evangélico nos fornece a informarão.
A cidade conhecia-o, desde a sua primeira visita ao Templo, e muita gente, quando de sua passagem por ali, acorria, pressurosa, a fim de lhe ouvir as pregações.
O povo judeu suspirava por alguém, com bastante autoridade, que o libertasse dos opressores.
Não seria tempo da redenção de Israel?
A raça escolhida experimentava severas humilhações.
O romano orgulhoso apertava a Palestina nos braços tirânicos.
Por isso, Jesus simbolizava a renovação, a promessa.
Quem operara prodígios iguais aos dele?
Profeta algum atingira aquelas culminâncias. A ressurreição de Lázaro, enfaixado no túmulo, com sinais evidentes de decomposição cadavérica, espantava os mais ilustres descendentes de Abraão. Nem Moisés, o legislador inesquecível, conseguira realização daquela natureza.
E o povo, naqueles dias de festa tradicional, se dispôs a homenageá-lo, em regra.
Receberia o profeta com demonstrações diferentes.
Mostraria aos prepostos de César que Jerusalém não renunciava aos propósitos de libertação, ciosa de sua autonomia, e, agora, mais que nunca, possuía um chefe político à altura dos acontecimentos.
Jesus, certamente, não atenderia às imposições dos sacerdotes e nem se submeteria ao suborno, ante as promessas douradas dos áulicos imperiais.
Em vista disso, quando o Mestre saiu de Betânia, a caminho da cidade, alinharam-se fileiras de populares, saudando-o festivamente.
Anciães de barbas encanecidas acompanhavam o coro dos jovens: – “Hosanas ao filho de David!”
As mulheres gritavam, entusiasticamente, amparando criancinhas a sustentarem, com graça, verdes ramos de palmeira.
Os discípulos, ladeando o Mestre, sentiam o efêmero júbilo rovocado pelo mentiroso incenso da multidão.
Os fiéis galileus, guindados inesperadamente ao cume da popularidade, inclinavam-se com desvanecimento, embriagados pelo triunfo.
De espaço a espaço, esse ou aquele patriarca fazia sinais a Pedro, Filipe ou João, convidando-os a se pronunciarem discretamente:
– Quando se manifestará o Messias?
Os interpelados assumiam atitude de orgulhosa prudência e respondiam, quase sempre, a mesma coisa:
– Estamos certos de que a homenagem de hoje é decisiva e o Messias dar-nos-á a conhecer o plano das nossas reivindicações.
Jesus agradecia aos manifestantes de Jerusalém com o olhar, mostrando, porém, melancólicos sorrisos.
Demonstrando compreender a situação, logo após, convocou os discípulos para uma reunião mais íntima, em que lhes diria algo de grave.
Interpelados por alguns amigos, Tiago e João, filhos de Zebedeu, informaram quanto ao anúncio do Mestre. Discutiria as questões do presente e do futuro, e, possivelmente, seria mais claro nas definições políticas da ação renovadora.
Por esse motivo, enquanto o Cristo e os companheiros tomavam a refeição frugal do cenáculo, verdadeira multidão apinhava-se, discreta, nas adjacências.
O povo aguardava informações do colégio apostólico, entre a ansiedade e a esperança.
Finda a reunião, e enquanto Jesus e Simão Pedro se demoravam em confidências, seis discípulos vieram, cautelosos, à via pública.
A fisionomia deles denunciava preocupações e desencanto.
Começaram os comentários, entre os intelectualistas de Jerusalém e os pescadores da Galiléia.
– Que disse o profeta? – perguntou o patriarca, chefe daquele movimento de curiosidade – Explicou-se, afinal?
– Sim – esclareceu Filipe com benevolência.
– E a base do programa de nossa restauração política e social?
– Recomendou o Senhor para que o maior seja servo do menor, que todos deveremos amar-nos uns aos outros.
– O sinal do movimento? – indagou o ancião de olhos lúcidos.
– Estará justamente no amor e no sacrifício de cada um de nós – replicou o Apóstolo, humilde.
– Dirigir-se-á imediatamente a César, fundamentando o necessário protesto?
– Disse-nos para confiarmos no Pai e crermos também nele, nosso Mestre e Senhor.
– Não se fará, então, exigência alguma? – exclamou o patriarca, irritado.
– Aconselhou-nos a pedir ao Céu o que for necessário e afirmou que seremos atendidos em seu nome – explicou Filipe, sem se perturbar.
Entreolharam-se, admirados os circunstantes.
– E a nossa posição? – resmungou o velho – Não somos o povo escolhido da Terra?
Muito calmo, o Apóstolo esclareceu:
– Disse o Mestre que não somos do mundo e por isso o mundo nos aborrecerá, até que o seu Reino seja estabelecido.
Espocaram as primeiras gargalhadas.
– Mas o profeta – continuou o israelita exigente – não assinou algum documento, nem se referiu a qualquer compromisso com as autoridades?
– Não – respondeu Filipe, sincero e ingênuo -, apenas lavou os pés dos companheiros.
Oh! para os filhos vaidosos de Jerusalém era demais.
Surgiram risos e protestos.
– Não te disse, Jafet? – falou um antigo fariseu ao patriarca. – Tudo isso é uma farsa.
Um moço pedante afiançou, depois de detestável risada:
– Muito boa, esta aventura dos pescadores!
Dentro de alguns minutos, via-se a rua deserta.
Desde essa hora, compreendendo que Jesus cumpria, acima de tudo, a Vontade de Deus, longe de qualquer disputa com os homens, a multidão abandonou-o.
Os discípulos, reconhecendo também que Ele desprezava todos os cálculos de probabilidade do triunfo político, retraíram-se, desapontados.
E, desde esse instante, a perseguição do Sinédrio tomou vulto e o Messias, sozinho com a sua dor e com a sua lealdade, experimentou a prisão, o abandono, a injustiça, o açoite, a ironia e a crucificação.
Essa, foi uma das ultimas lições d’Ele, entre as criaturas, dando-nos a conhecer que é muito fácil cantar hosanas a Deus, mas muito difícil cumprir-lhe a Divina Vontade, com o sacrifício de nós mesmos.