Lutas e dificuldades do cotidiano inibem nossas tendências viciosas
Conversei, certa feita, com um companheiro espírita, desses que chegam cheios de boas intenções e logo se afastam, dispensando explicações.
– Então, meu caro, por onde anda? Algum problema em nossa casa ou com você e a esposa? Ambos sumiram sem aviso…
– Não, Richard, não houve nada de grave. Estamos muito bem. Talvez seja esse o problema… Como sabe, quando nos casamos, a vida era difícil.
Eu ainda estudava. Ganhava o sustento em emprego precário, ajudado pela esposa que vendia roupas. Logo vieram dois filhos, o primeiro com problemas de saúde. Orçamento apertado, tudo controlado. Nada de gastos supérfluos, passeios, festas ou badalações…
– Lembro bem… Economizavam até o passe de ônibus! Era uma boa caminhada até o Centro…
– Isso mesmo! Não obstante as dificuldades ou até por causa delas, encontrávamos tempo e inspiração para o cultivo dos valores espirituais.
Orávamos em família, participávamos dos serviços assistenciais no fim de semana, comparecíamos às reuniões doutrinárias. Nossa vida tinha um sentido, um ideal a ser concretizado… Isso tudo nos dava muita força e abençoada tranqüilidade.
Suspirou fundo e concluiu, melancólico:
– Depois as coisas melhoraram. Comecei a ganhar dinheiro num promissor empreendimento comercial; meu filho superou os problemas de saúde, mudamos para um bairro de classe abastada.
Multiplicaram-se compromissos profissionais e sociais. Atividade intensa, sem espaço para as orações em família, o culto, a atividade espiritual… Prosperamos materialmente, mas, tanto eu quanto minha esposa sentimos que algo precioso, de valor inestimável, ficou perdido…
– Talvez um sentido para a existência, um objetivo…
Meu amigo suspirou:
– Exatamente! Ficou um vazio… Lembro uma expressão popular que define o assunto: Eramos felizes e não sabíamos!
Lamentavelmente, não obstante o desabafo, meu amigo ainda não encontrou tempo para retomar os ideais negligenciados.
Quando o caminho é fácil, esquecemos a bússola do discernimento.
Acabamos nos desviando dos roteiros celestes que, bem sabemos, estão perfeitamente delineados nas lições de Jesus, reverenciado por Kardec no comentário à questão número 625 de O Livro dos Espíritos:
Para o homem, Jesus constitui o tipo de perfeição moral a que a Humanidade pode aspirar na Terra.
Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que ensinou é a expressão mais pura da lei do Senhor, porque, sendo ele o mais puro de quantos têm aparecido na Terra, o espírito divino o animava.
Raros se disporiam a repetir a súplica de Druso, esquecidos de Jesus e do significado de sua missão.
Mas estejamos certos de que Jesus não se esquece de nós, permitindo que venham dores, lutas e dificuldades em nosso caminho.
Abençoado propósito inspira o Mestre Supremo:
EVITAR QUE ESQUEÇAMOS O ENDEREÇO DE DEUS.
Livro “O Destino em Suas Mãos”