Publicado em 7 de maio, 2017 | por Centro Paz e Amor
0O Boneco
Osório, sua esposa Selma e o filho Tiago almoçam tranquilos, quando ouvem gritos. É Carmem, a filha mais nova, nos fundos da casa. – Acodem rápido! Vejam que horrível! – mostra a jovem assustada.
Num canto do quintal, perto da piscina, um objeto muito estranho, com várias costuras no ventre e na boca, manchas vermelhas no tecido surrado, espetado por várias agulhas.
– Não toquem! Cuidado! É um despacho de macumba. Grita Felismina, a serviçal doméstica.
– Meu Deus! Quem será o malvado que nos quer prejudicar?! Não fazemos mal a ninguém – diz a dona da casa.
E dirigindo-se ao marido: – Certamente é arte daquela sirigaita que trabalha em sua repartição! Ela não esconde que considera você um ótimo partido. Que seria um viúvo disputado! Valha-me Deus, sinto falta de ar, é para mim essa encomenda das trevas, vou desmaiar!
– Ora, querida – responde o esposo, conciliador – não julgue assim a pobre Anita. Conheço-a bem. Seria incapaz de semelhante maldade. São os invejosos! Provavelmente pretendendo “amarrar” nossa prosperidade! Precisamos fazer algo rápido para neutralizar esta maligna influência, pois já fui atingido, ai que forte dor de cabeça, parece que martelam meus miolos!
– Coisa boa não é mesmo – acrescenta perturbado o filho Tiago – as agulhas parecem enterradas em meu corpo. Dói tudo! O despacho é para mim! Quando me apaixonei pela Margarida e rompi o noivado com Júlia ela jurou que eu pagaria pela desfeita. A família dela mexe com “saravá”!
– Você, que entende dessas coisas, o que nos diz, Felismina?
– A serviçal responde:: – Não sei quem fez, mas é para prejudicar a família toda. Cruzes!
O grupo assusta-se mais. O medo cresce. O desajuste encontrou portas abertas! Todos estão tensos e angustiados!
Selma está pálida, Osório gelado, tremendo da cabeça aos pés; os dois à beira de um colapso!
Batem à porta. É o vizinho!
– Bom dia,- diz o vizinho – Desculpem incomodá-los. Peço licença para levar o boneco de meu filho. O irmão o jogou no seu quintal. O garoto está em prantos. Seu sonho é ser médico cirurgião. O boneco é seu paciente. Já o “operou” muitas vezes. Não tem mais onde costurar. Até sangue inventou, com molho de tomate. Imagine, a mãe dele faz acupuntura, então ele resolveu, também, praticar a acupuntura no boneco. Não concordo muito com isso de furar e cortar o boneco, mas a mãe diz que não faz mal. Em fim!
Assim, o boneco foi devolvido. Olharam-se todos atônitos! Descontraíram-se . O riso solto e feliz vem como alívio. Osório comenta bem humorado:- É, felizmente, o vizinho chegou a tempo! Se demorasse um pouco poderíamos morrer de susto.
Richard Simonetti