Por um Novo Modelo
Na transição da era das provas e das expiações para a era da regeneração necessitaremos de um novo modelo de relacionamento entre pessoas e nações. Os modelos atuais, nos campos político, econômico, social são fundados nos padrões egoísticos. Jesus nos passou a síntese luminosa: “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos”. É necessário criar um ambiente altruísta onde nós possamos experimentar o bem para que percebamos que o bem é bom.
A caridade, colocada pela Doutrina Espírita como chave para a iluminação das criaturas, é o alicerce da fraternidade, como ensina Allan Kardec: “Sem caridade, não há instituição humana estável! E não pode haver caridade sem fraternidade, na verdadeira acepção do termo, sem a crença”. E completa o Codificador: “A falta de crença conduz ao materialismo, e o materialismo ao egoísmo” (in Viagem Espírita em 1862 – Ed. O Clarim).
A crença em Deus e na imortalidade pessoal, de onde fluem as manifestações puras de altruísmo e, consequentemente, de amor ao próximo, caracterizam o ponto de partida para o estabelecimento de uma sociedade justa e equilibrada, em que todos possam ter condições de viver dignamente, em ambiente de respeito aos direitos humanos, a partir do cumprimento dos deveres que todos temos.
Os direitos e os deveres devem andar lado a lado. Na verdade, são direitos e obrigações do espírito, a “centelha divina”. Fazemos parte de transitoriedade. Porém não podemos nos esquecer da nossa essencialidade, da realidade permanente do espírito, criado simples e ignorante, mas destinado ao contínuo aperfeiçoamento. Implica dizer que temos que conquistar definitivamente os valores definidos na Lei Natural, “a única necessária à felicidade do homem; ela lhe indica o que ele deve fazer ou não fazer, e ele só se torna infeliz porque dela se afasta”, conforme aprendemos em O Livro dos Espíritos, questão 614.
Estudando a Lei do Trabalho, tal como está no capítulo III de O Livro dos Espíritos, vemos que naquela época, 1857, praticamente não existiam estruturas jurídicas reguladoras do trabalho humano. De lá para cá, o fator humano ganhou importância. Modernamente, chamam-no capital humano, considerado a maior riqueza que pode existir numa organização.
Em nossa história predominam as crises, as lutas pelo poder, pelo domínio. Vieram as guerras, as torturas, a escravidão. Enchemos de sangue os verdes campos da Terra. Ainda hoje estamos aturdidos com sete bilhões de encarnados e mais de um bilhão de pessoas que não têm acesso a qualquer água, milhões de crianças que desencarnaram com doenças da subnutrição e da falta de higiene. A humanidade clama pelo Consolador.
Como, porém, podemos criar ambiente de altruísmo e solidariedade? No limiar do tempo novo, recordamos o item 5 do capítulo VI de O Evangelho Segundo o Espiritismo, como nos ensinou o Espírito de Verdade: “Espíritas! Amai-vos, este o primeiro ensinamento; instrui-vos, este o segundo”. Comecemos, portanto, com o amor entre nós. Gradativamente ampliemos nosso arco solidário para todos aqueles que de nós se aproximem. Mais adiante, estendamos o sentimento amoroso para a nossa comunidade, para nosso país, para todos os países. Somos irmãos! Para além das diferenças das raças, das línguas, dos costumes, das religiões, é preciso celebrar a fraternidade. Para que, um dia, a caridade presida todo o processo relacional da criatura humana. Nosso desafio, no século XXI, é a celebração efetiva da fraternidade universal. Aí virão os novos modelos políticos, econômicos, sociais, no tempo novo que está chegando.
Autor: Cesar Reis
Revista Cultura Espírita – Instituto de Cultura Espírita do Brasil (ICEB) Ano IV – Edição nº 41 – Página: 11 – Agosto/2012