O Educador Espírita e a Criança Especial
Por Elaine Maldonado
Com os olhos marejados e uma expressão de dor, a mãe me diz num sussurro:
– Sabe, está tão difícil…
Esta mulher tem dois filhos com deficiência intelectual, um deles grave, e veio pedir ajuda porque já não sabia o que fazer para convencer o filho mais novo a ir para a escola.
Outra mãe, numa outra ocasião, me olha angustiada e pergunta: – Se Deus me deu essas crianças, é porque Ele tem um propósito, né?
Ela tem um filho com distrofia muscular tipo Duchene, uma doença degenerativa grave que acomete meninos e é transmitida geneticamente, e está grávida de gêmeos, sendo que um deles já se sabe que é menino e, provavelmente, também terá o mesmo “problema”.
São muitos os casos numa escola pública com cerca de mil alunos e muitas as reações das famílias: há as que não aceitam, se revoltam contra a Vida, aumentando assim seu sofrimento e dificultando o resgate de faltas pretéritas, mas, também há as que descobrem dentro de si uma força que jamais supunham ter, e correm atrás e lutam pelos direitos do filho amado que Deus lhes deu. Felizmente, estes são a maioria.
Nos dois casos, porém, há os momentos de cansaço, de desânimo, de perguntas do tipo: Por que meu filho? Por que comigo?
Nestas horas, o melhor a fazer é mostrar que estamos ao lado da família, sem pré-julgamentos, sem condenações, apenas ouvindo, apoiando e buscando juntos soluções para as necessidades imediatas.
Apenas Deus e a Espiritualidade podem saber o que estas almas vieram resgatar, e como educadora posso dizer que nestas horas é um alívio ser espírita. Só com conhecimento das Leis Morais, podemos entender que há, sim, um propósito para estas crianças e, assim, apoiar a família sem julgar e sem se revoltar contra a “injustiça” de ver uma criança pequena neste estado.
Para muitas pessoas é fácil apontar o dedo para as mães citadas acima e acusá-las de serem irresponsáveis por engravidar novamente sabendo que o primeiro filho já manifestou a deficiência, porém, quando se tem conhecimento da Lei da Reencarnação, sabe-se que estas almas precisam passar por isso e, longe de ser um castigo, esta é uma preciosa oportunidade de evolução e resgate.
Dora Incontri, pesquisadora e autora do livro “A Educação segundo o Espiritismo”, explica de maneira muito clara as causas das deficiências:
“O nascimento de crianças excepcionais é um desses fatos que só se pode explicar inteiramente pela lei da reencarnação. As deficiências mentais (e evidentemente as físicas também) são sempre resultados de processos cármicos, cujas origens desconhecemos. Mas podemos indicar suas características principais.
Espíritos que abusaram demasiado da inteligência, empregando-a em prejuízo de si próprios e do próximo podem ter encarnações expiatórias, em que se sintam tolhidos para usá-la em sua integridade. Geralmente, são Espíritos que desenvolveram pouco o sentimento. Enquanto, pois, não podem manifestar a plenitude de suas faculdades intelectuais na carne, são obrigados a arranjar outras formas de comunicação com o ambiente e por isso, muitas vezes, mostram-se extremamente afetivos. Isso se observa com muita clareza nas crianças de síndrome de Down – afetuosíssimas, em sua maioria.” [1]
O desafio do educador espírita é orientar as famílias, fazer o seu melhor para que estas crianças se desenvolvam ao máximo dentro de seus limites e amá-las, pois apenas o amor fraternal pode superar as deficiências e ajudar estes nossos irmãos nesta experiência física tão singular.
Não é tarefa fácil mas, acredite, com conhecimento do Mundo Espiritual ela fica muito mais possível, afinal, se há uma razão para estas crianças terem vindo assim, também há uma razão para sermos seus professores.
[1] Incontri, Dora. A EDUCAÇÃO SEGUNDO O ESPIRITISMO. Bragança Paulista, Editora Comenius, 2004, pg. 39.
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