Publicado em 23 de fevereiro, 2021 | por Centro Paz e Amor
0A chegada do Espiritismo ao Brasil
Por Elaine MaldonadoContato: profelayne@yahoo.com.br
A codificação da doutrina espírita, como é de conhecimento de seus seguidores, ocorreu na França, o que pouca gente sabe é que o movimento espírita rapidamente chegou ao Brasil. Datam da década de 1860 os primeiros registros acerca do espiritismo em nosso país.
Estudantes brasileiros e pessoas abastadas em viagem à Europa, ao que tudo indica, traziam a obra de Kardec em sua bagagem na volta e entre a elite começou a se divulgar a nova doutrina.
Primeiro no Rio de Janeiro, onde, ao que tudo indica, inicialmente não alcançou grande repercussão popular e nem mesmo chegou a ter muitos problemas com a Igreja Católica. Como observou Sylvia F. Damazio:
Talvez pelo prestígio dos imigrantes franceses, talvez pela pouca receptividade à nova doutrina no Rio de Janeiro, o fato é que a Igreja Católica não fez grande carga contra o espiritismo no decorrer dos anos 60, apesar do seu empenho em estigmatizar os ateus e os espiritualistas ecléticos. Por outro lado, passado o entusiasmo inicial, o interesse do grupo francês pela novidade arrefeceu[1].
Na Bahia, ao contrário, o espiritismo se organiza, grupos são formados, sendo o primeiro deles o “Grupo Familiar de Espiritismo”, fundado em 1865 sob a direção de Olímpio Teles de Menezes. E lá sim, desde o início, os espíritas passam a sofrer com os ataques do clero. O arcebispo da Bahia, D. Manuel Joaquim de Almeida, redige uma longa Pastoral, publicada em 25 de julho de 1867, em que atacava duramente o espiritismo. A partir daí a polêmica entre os dois grupos se instala e a cada nova investida da Igreja Católica correspondia uma nova resposta do grupo baiano.
Curiosamente, esse ponto de discórdia entre espíritas e católicos acabou por reascender o interesse pela nova doutrina na Corte, como diz Damazio:
O movimento espírita na Bahia, em seus primórdios, pela ação apostólica de seus membros e pela repressão que acarretou, chamou a atenção do restante do país e concorreu para propagar o Espiritismo, especialmente na Corte, onde o grupo francês voltou a dedicar-se às sessões de efeitos físicos. Por essa época, a doutrina já era do conhecimento da intelectualidade brasileira e já havia conquistado admiradores e praticantes. [2]
Os adeptos do espiritismo passaram usaram os jornais da época para divulgar suas experiências, e os ensinamentos de sua doutrina. O que, aliás, não é privilégio do grupo carioca, visto que também o grupo baiano usou, e muito, a mídia impressa para divulgar suas idéias. Desde o início, os dois grupos, o carioca e o baiano, buscam na literatura o ponto de divulgação da nova doutrina.
Fazendo da literatura, ou melhor, da escrita, o principal instrumento de divulgação da doutrina de Allan Kardec, estes dois grupos foram responsáveis pela edição do primeiro periódico espírita brasileiro, Echos de Além-Túmulo, lançado na Bahia em 1865, e pela publicação, em 1860, do primeiro livro espírita editado no Brasil. Este, lançado no Rio de Janeiro, trazia a marca da língua culta do país: foi publicado em francês. Denominado Les temps sont arrivés, foi escrito por Casimir Lieutaud, diretor do Colégio Francês, o mais renomado da Corte. [3]
Na mesma época, Casimir Lieutaud publica também “O Espiritismo na sua expressão mais simples”. Esses livros e o periódico baiano foram as primeiras publicações espíritas da época e abriram a porta para que o espiritismo se espalhasse em terras brasileiras.
O ano de 1875 foi especialmente importante para o movimento espírita, devido aos fatos importantes registrados. Entre eles, a publicação da Revista Espírita sob a direção de Antonio da Silva Neto, além da primeira edição de O Livro dos Espíritos, traduzido por Joaquim Carlos Travassos e editado pela Editora B.L. Garnier.
Ainda neste ano, são publicados também, pela mesma editora, O Livro dos Médiuns, O Céu e o Inferno e o Evangelho Segundo o Espiritismo.
[1] DAMAZIO. Sylvia F. “Da elite ao povo: advento e expansão do espiritismo no Rio de Janeiro”. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994, pág.66.
[2] Idem, ibidem, pág.67.
[3] STOLL, Sandra Jacqueline. Espiritismo à brasileira. São Paulo, Edusp, pág.50.