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Publicado em 6 de janeiro, 2017 | por Centro Paz e Amor

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A hora final

Que se passa no momento da morte e como se desprende o Espírito da sua prisão material? Que Impressões, que sensações o esperam nessa ocasião temerosa? É isso o que interessa a todos conhecer, porque todos cumprem essa jornada. A vida foge-nos a todo instante: nenhum de nós escapará à morte.
Ora, o que todas as religiões e filosofias nos deixaram ignorar os Espíritos, em multidão, no-lo vêm ensinar. Dizem-nos que as sensações que precedem e se seguem à morte são infinitamente variadas e dependentes sobretudo do caráter, dos méritos, da elevação moral do Espírito que abandona a Terra. A separação é quase sempre lenta, e o desprendimento da alma opera-se gradualmente. Começa, algumas vezes, muito tempo antes da morte, e só se completa quando ficam rotos os últimos laços fluídicos que unem o perispírito ao corpo. A impressão sentida pela alma revela-se penosa e prolongada quando esses laços são mais fortes e numerosos. Causa permanente da sensação e da vida, a alma experimenta todas as comoções, todos os despedaçamentos do corpo material.
Dolorosa, cheia de angústias para uns, a morte não é, para outros, senão um sono agradável seguido de um despertar silencioso. O desprendimento é fácil para aquele que previamente se desligou das coisas deste mundo, para aquele que aspira aos bens espirituais e que cumpriu os seus deveres. Há, ao contrário, luta, agonia prolongada no Espírito preso à Terra, que só conheceu os gozos materiais e deixou de preparar-se para essa viagem.
Entretanto, em todos os casos, a separação da alma e do corpo é seguida de um tempo de perturbação, fugitivo para o Espírito justo e bom, que desde cedo despertou ante todos os esplendores da vida celeste; muito longo, a ponto de abranger anos inteiros, para as almas culpadas, impregnadas de fluídos grosseiros. Grande número destas últimas crê permanecer na vida corpórea, muito tempo mesmo depois da morte. Para estas, o perispírito é um segundo corpo carnal, submetido aos mesmos hábitos e, algumas vezes, às mesmas sensações físicas como durante a vida terrena.
Outros Espíritos de ordem inferior se acham mergulhados em uma noite profunda, em um completo Insulamento no seio das trevas. Sobre eles pesa a Incerteza, o terror. Os criminosos são atormentados pela visão terrível e incessante das suas vítimas.
A hora da separação é cruel para o Espírito que só acredita no nada. Agarra-se como desesperado a esta vida que lhe foge; no supremo momento Insinua-se-lhe a dúvida; vê um mundo temível abrir-se para abismá-lo, e quer, então, retardar a queda. Daí, uma luta terrível entre a matéria, que se esvai, e a alma, que teima em reter o corpo miserável. Algumas vezes, ela fica presa até à decomposição completa, sentindo mesmo, segundo a expressão de um Espírito, “os vermes lhe corroerem as carnes”.
Pacífica, resignada, alegre mesmo, é a morte do justo, a partida da alma que, tendo muito lutado e sofrido, deixa a Terra confiante no futuro.
Para esta, a morte é a libertação, o fim das provas. Os laços enfraquecidos que a ligam à matéria, destacam-se docemente; sua perturbação não passa de leve entorpecimento, algo semelhante ao sono.
Deixando sua residência corpórea, o Espírito, purificado pela dor e pelo sofrimento, vê sua existência passada recuar, afastar-se pouco a pouco com seus amargores e ilusões; depois, dissipar-se como as brumas que a aurora encontra estendidas sobre o solo e que a claridade do dia faz desaparecer. O Espírito acha-se, então, como que suspenso entre duas sensações: a das coisas materiais que se apagam e a da vida nova que se lhe desenha à frente. Entrevê essa vida como através de um véu, cheia de encanto misterioso, temida e desejada ao mesmo tempo. Após, expande-se a luz, não mais a luz solar que nos é conhecida, porém uma luz espiritual, radiante, por toda parte disseminada. Pouco a pouco o inunda, penetra-o, e, com ela, um tanto de vigor, de remoçamento e de serenidade. O Espírito mergulha nesse banho reparador. Aí se despoja de suas incertezas e de seus temores. Depois, seu olhar destaca-se da Terra, dos seres lacrimosos que cercam seu leito mortuário, e dirige-se para as alturas. Divisa os céus Imensos e outros seres amados, amigos de outrora, mais jovens, mais vivos, mais belos que vêm recebê-lo, guiá-lo no seio dos espaços. Com eles caminha e sobe às regiões etéreas que seu grau de depuração permite atingir. Cessa, então, sua perturbação, despertam faculdades novas, começa o seu destino feliz.
A entrada em uma vida nova traz impressões tão variadas quanto o permite a posição moral dos Espíritos. Aqueles — e o número é grande — cujas existências se desenrolam indecisas, sem faltas graves nem méritos assinalados, acham-se, a princípio, mergulhados em um estado de torpor, em um acabrunhamento profundo; depois, um choque vem sacudir-lhes o ser. O Espírito sai, lentamente, de seu invólucro: como uma espada da bainha; recobra a liberdade, porém, hesitante, tímido, não se atreve a utilizá-la ainda, ficando cerceado pelo temor e pelo hábito aos laços em que viveu. Continua a sofrer e a chorar com os entes que o estimaram em vida. Assim corre o tempo, sem ele o medir; depois de muito, outros Espíritos auxiliam-no com seus conselhos, ajudando a dissipar sua perturbação, a libertá-lo das últimas cadeias terrestres e a elevá-lo para ambientes menos obscuros.
Em geral, o desprendimento da alma é menos penoso depois de uma longa moléstia, pois o efeito desta é desligar pouco a pouco os laços carnais. As mortes súbitas, violentas, sobrevindo quando a vida orgânica está em sua plenitude, produzem sobre a alma um despedaçamento doloroso e lançam-na em prolongada perturbação. Os suicidas são vítimas de sensações horríveis. Experimentam, durante anos, as angústias do último momento e reconhecem, com espanto, que não trocaram seus sofrimentos terrestres senão por outros ainda mais vivazes.
O conhecimento do futuro espiritual, o estudo das leis que presidem à desencarnação são de grande importância como preparativos à morte. Podem suavizar os nossos últimos momentos e proporcionar-nos fácil desprendimento, permitindo mais depressa nos reconhecermos no mundo novo que se nos desvenda.
O JULGAMENTO – Uma lei tão simples em seus princípios quanto admirável em seus efeitos preside à classificação das almas no espaço.
Quanto mais sutis e rarefeitas são as moléculas constitutivas do perispírito tanto mais rápida é a desencarnação, tanto mais vastos são os horizontes que se rasgam ao Espírito. Devido ao seu peso fluídico e às suas afinidades, ele se eleva para os grupos espirituais que lhe são similares. Sua natureza e seu grau de depuração determinam-lhe nível e classe no meio que lhe é próprio. Com alguma exatidão tem-se comparado a situação dos Espíritos no espaço à dos balões cheios de gases de densidades diferentes que, em virtude de seus pesos específicos, se elevam a alturas diversas. Mas, cumpre que nos apressemos em acrescentar que o Espírito é dotado de liberdade e, portanto, não estando imobilizado em nenhum ponto, pode, dentro de certos limites, deslocar-se e percorrer os páramos etéreos.
Pode, em qualquer tempo, modificar suas tendências, transformar-se pelo trabalho ou pela prova, e, conseguintemente, elevar-se à vontade na escala dos seres.
É, pois, uma lei natural, análoga às leis da atração e da gravidade, a que fixa a sorte das almas depois da morte. O Espírito impuro, acabrunhado pela densidade de seus fluídos materiais, confina-se nas camadas inferiores da atmosfera, enquanto a alma virtuosa, de envoltório depurado e sutil, arremessa-se, alegre, rápida como o pensamento, pelo azul infinito.
É também em si mesmo — e não fora de si, é em sua própria consciência que o Espírito encontra sua recompensa ou seu castigo. Ele é seu próprio juiz. Caído o vestuário de carne, a luz penetra-o e sua alma aparece nua, deixando ver o quadro vivo de seus atos, de suas vontades, de seus desejos. Momento solene, exame cheio de angústia e, muitas vezes, de desilusão. As recordações despertam em tropel e a vida inteira desenrola-se com seu cortejo de faltas, de fraquezas, de misérias. Da infância à morte, tudo, pensamentos, palavras, ações, tudo sai da sombra, reaparece à luz, anima-se e revive. O ser contempla-se a si mesmo, revê, uma a uma, através dos tempos, suas existências passadas, suas quedas, suas ascensões, suas fases inumeráveis. Conta os estágios franqueados, mede o caminho percorrido, compara o bem e o mal realizados. Do fundo do passado obscuro, surgem, a seu apelo, como outros tantos fantasmas, as formas que revestiu através das vidas sucessivas. Em uma visão clara, sua recordação abraça as longas perspectivas das Idades decorridas; evoca as cenas sanguinolentas, apaixonadas, dolorosas, as dedicações e os crimes; reconhece a causa dos processos executados, das expiações sofridas, o motivo da sua posição atual. Vê a correlação que existe, unindo suas vidas passadas aos anéis de uma longa cadeia desenrolando-se pelos séculos. Para si, o passado explica o presente e este deixa prever o futuro. Eis para o Espírito a hora da verdadeira tortura moral. Essa evocação do passado traz-lhe a sentença temível, a increpação da sua própria consciência, espécie de julgamento de Deus. Por mais lacerante que seja, esse exame é necessário porque pode ser o ponto de partida de resoluções salutares e da reabilitação.
O grau de depuração do Espírito, a posição que ocupa no espaço representam a soma de seus progressos realizados e dão a medida do seu valor moral. É nisto que consiste a sentença infalível que lhe decide a sorte, sem apelo. Harmonia profunda! Simplicidade maravilhosa que as instituições humanas não poderiam reproduzir; o princípio de afinidade regula todas as coisas e fixa a cada qual o seu lugar. Nada de julgamento, nada de tribunal, apenas existe a lei imutável executando-se por si própria, pelo jogo natural das forças espirituais e segundo o emprego que delas faz a alma livre e responsável.
Todo pensamento tem uma forma, e essa forma, criada pela vontade, fotografa-se em nós como em um espelho onde as imagens se gravam por si mesmas. Nosso envoltório fluídico reflete e guarda, como em um registro, todos os fatos da nossa existência. Esse registro está fechado durante a vida, porque a carne é a espessa capa que nos oculta o seu conteúdo. Mas, por ocasião da morte, ele abre-se repentinamente e as suas páginas distendem-se aos nossos olhos.
O Espírito desencarnado traz, portanto, em si, visível para todos, seu céu ou seu inferno. A prova irrecusável da sua elevação ou da sua inferioridade está inscrita em seu corpo fluídico. Testemunhas benévolas ou terríveis, as nossas obras, os nossos desígnios justificam-nos ou acusam-nos, sem que coisa alguma possa fazer calar as suas vozes. Daí o suplício do mau que, acreditando estarem os seus pérfidos desejos, os seus atos culpáveis profundamente ocultos, os vê, então, brotar aos olhos de todos; daí os seus remorsos quando, sem cessar, repassam diante de si os anos ociosos e estéreis, as horas impregnadas no deboche e no crime, assim como as vítimas lacrimosas, sacrificadas a seus instintos brutais. Daí também a felicidade do Espírito elevado, que consagrou toda a sua vida a ajudar e a consolar seus irmãos.
Para distrair-se dos cuidados, das preocupações morais, o homem tem o trabalho, o estudo, o sono. Para o Espírito não há mais esses recursos. Desprendido dos laços corporais, acha-se incessantemente em face do quadro fiel e vivo do seu passado. Assim, os amargores e pesares contínuos, que então decorrem, despertam-lhe, na maior parte dos casos, o desejo de, em breve, tomar um corpo carnal para combater, sofrer e resgatar esse passado acusador.

(LEON DENIS, “Depois da Morte”, caps. 30 e 31)

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