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Publicado em 21 de novembro, 2018 | por Centro Paz e Amor

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Construindo pontes de afinidade

André Trigueiro

Não é difícil perceber o primeiro traço comum entre Ecologia e Espiritismo: são ciências sistêmicas que procuram investigar, cada qual com sua ferramenta de observação, as relações que sustentam e emprestam sentido à vida. Essa visão sistêmica da realidade se revela de forma tão explícita nas duas ciências, que o que aparece em certas obras espíritas poderia perfeitamente embasar alguns postulados ecológicos.

Em A Gênese(1), uma das obras básicas da doutrina espírita, a relação de interdependência preconizada pelos ecologistas aparece descrita da seguinte maneira por Allan Kardec:

Assim, tudo no universo se liga, tudo se encadeia, tudo se acha submetido à grande e harmoniosa lei de unidade. (Cap XIX, p. 280)

Em outro trecho, afirma:

De sorte que as nebulosas reagem sobre as nebulosas, os sistemas reagem sobre os sistemas, como os planetas reagem sobre os planetas, como os elementos de cada planeta reagem uns sobre os outros, e assim sucessivamente, até ao átomo. (Cap. XVIII, p. 408)

A percepção de uma realidade sistêmica em um universo onde a figura de Deus está presente é traço comum em todas as doutrinas ou tradições religiosas, e isso também inclui o Espiritismo. O físico austríaco Fritjof Capra afirma que A percepção da ecologia profunda é percepção espiritual ou religiosa. Quando a concepção de espírito humano é entendida como o modo de consciência no qual o indivíduo tem a percepção de pertinência, de conexidade, com o cosmos como um todo, torna-se claro que a percepção ecológica é espiritual na sua essência mais profunda(2).

Leonardo Boff, teólogo e escritor, chama de “universo autoconsciente e espiritual” o ambiente onde todos estamos intrinsecamente em relação.

Por espírito se entende a capacidade das energias primordiais e da própria matéria interagirem entre si, de se autocriarem (autopoiese), de se auto-organizarem, de se constituírem em sistemas abertos, de se comunicarem e formarem teias cada vez mais complexas de inter-retro- relações que sustentam o universo inteiro. O espírito é fundamentalmente relação, interação e auto-organização em diferentes níveis de realização (3).

Ao comentar a Questão 540 de O Livro dos Espíritos, Kardec afirma que “é assim que tudo serve, que se encadeia na natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo, que também começou por ser átomo”(4) . Na visão espírita, esse encadeamento de todos os seres se resolve de uma maneira que lembra, por vezes, o Evolucionismo de Darwin.

O darwinismo inspirou uma das perguntas feitas ao Espírito Emmanuel no livro O Consolador. A resposta se deu através da psicografia do médium Francisco Cândido Xavier:

Pergunta 41 – A idéia de evolução, que tem influído na esfera de todas as ciências do mundo, desde as teorias darwinianas, representa agora uma nova etapa de aproximação entre os conhecimentos científicos do homem e as verdades do

Espiritismo?

Resposta – Todas as teorias evolucionistas no orbe terrestre caminham para a aproximação com as verdades do Espiritismo, no abraço final com a verdade suprema(5).

A resposta sugere que, se não há plena identificação entre as diferentes correntes, há sinergia. Ou que a ciência da Terra avança na direção daquilo que a Espiritualidade afirma como verdade. Nas obras espíritas explica-se como a jornada evolutiva se desdobra pelos três reinos da natureza. O pesquisador Jorge Andréa dos Santos, médico e professor do Instituto de Cultura Espírita do Brasil, traz informações importantes sobre este assunto:

O mineral possui tanto a vida quanto o vegetal e o animal(6). O princípio unificador, a essência que preside as formas e o metabolismo da flora e fauna existe também no reino mineral, presidindo as forças de atração e repulsão em que átomos e moléculas se unificam e equilibram. Do simples fenômeno químico até as manifestações humanas de nossos dias, existe o princípio espiritual regendo e orientando; claro que sob formas variáveis, elastecendo-se e ampliando-se à medida que a escala evolutiva avança(7).

A ideia de que os reinos da Natureza se apresentam como degraus da escada evolutiva também é elucidada pelo Espírito Áureo, através da psicografia de Hernani T. Sant’Anna:

Tais princípios sofrem passivamente, através das eternidades e sob a vigilância dos Espíritos prepostos, as transformações que hão de desenvolver, passando sucessivamente pelos reinos mineral, vegetal e animal e pelas formas e espécies intermediárias que se sucedem entre cada dois desses reinos. Chegam, dessa maneira, numa progressão contínua, ao período preparatório do estado de espírito formado, isto é, ao estado intermédio, da encarnação animal e do estado espiritual consciente. Depois, vencido esse estado preparatório, chegam ao estado de criaturas possuidoras do livre-arbítrio, com inteligência capaz de raciocínio, independentes e responsáveis pelos seus atos(8).

A afirmação espírita de que todos nós passamos pelos diferentes reinos da natureza em uma progressão contínua determina o aparecimento de uma nova ética em relação a todas as criaturas existentes. Os demais seres vivos poderiam ser considerados nossos “irmãos em evolução”, que hoje estagiam em níveis inferiores já experimentados por nós. Francisco de Assis conversava com borboletas e pássaros há 800 anos, e deixou eternizado o “Cântico das Criaturas”. Seria ele um precursor desse novo olhar interligado, que reconhece as relações de “parentesco” entre todos os seres vivos?

Pesquisas genéticas recentes confirmam esses surpreendentes graus de parentesco através do exame do DNA. Temos 30 mil genes e, embora no topo da cadeia evolutiva, nossa diferença para os ratos é de apenas 300 genes. Em relação aos vermes, são apenas 10 mil genes a mais.

O fato é que espíritas e ecologistas têm motivos de sobra para defender a mesma causa: a proteção da biodiversidade. Se para o ecologista a expressão “equilíbrio ecológico” revela a capacidade de um ecossistema se manter perene por si mesmo, sem que o homem interfira nesse software inteligente da vida comprometendo sua resiliência, para os espíritas há que se reconhecer algo mais: a importância da “escada” cujos degraus precisam suportar a evolução de outros que, como nós, têm o mesmo direito de existir e seguir em frente. Enquanto o abate de animais para a alimentação humana ainda for visto como uma necessidade, que se considere a forma mais ética de realizar esse procedimento, sem crueldade, eliminando ao máximo os riscos de dor e sofrimento.

O planeta está dentro de nós.

Somos feitos rigorosamente dos mesmos elementos que constituem o planeta. A palavra homem, de onde vem “humanidade”, tem origem no latim húmus. A palavra Adão, que aparece simbolicamente no Velho Testamento como a primeira criatura humana, significa “terra fértil” em hebraico. Essa mesma terra – que empresta o nome ao planeta e à nossa espécie – se revela no mais rudimentar dos exames de sangue, quando descobrimos que por nossas veias transportamos minérios que jazem nas profundezas do solo. Ferro, zinco, cálcio, selênio, fósforo, manganês, potássio, magnésio e outros elementos são absolutamente fundamentais à nossa saúde e bem-estar. Se descuidamos da ingestão desses nutrientes – presentes em boa parte dos alimentos – nosso metabolismo fica exposto a diferentes gêneros de desequilíbrio e doenças.

O mesmo ocorre em relação à água. As primeiras estruturas microscópicas de vida do planeta apareceram nas águas salgadas e quentes dos mares primitivos. Também quente e salgado é o líquido que nos envolve durante todo o período de gestação no útero materno. O soro fisiológico – bem como o soro caseiro – salva vidas quando recompõe a tempo nossa necessidade deste precioso líquido. Por um capricho divino, a proporção de água no planeta (70%) é a mesma com que esse elemento se resolve em nosso corpo físico. Precisamos ingerir pelo menos 2,5 litros de água por dia para assegurar o bom funcionamento do metabolismo, irrigando células, glândulas, órgãos, tecidos. Também precisamos de uma quantidade mínima de água no ar que respiramos.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), se a umidade relativa do ar oscilar entre 20% e 30% deve-se considerar estado de atenção; entre 12 % e 20%, é estado de alerta; abaixo de 12%, é estado de emergência. É absolutamente desagradável – e ameaça a saúde – respirar num ambiente com pouco vapor d’água misturado ao ar.

O elemento fogo se revela simbolicamente em diferentes fenômenos fundamentais à manutenção da vida. Vem do sol a energia que sustenta todas as estruturas vitais do planeta, cujo núcleo é composto de uma grande massa de magma incandescente. O que se convencionou chamar de efeito estufa é a capacidade de a atmosfera reter parte do calor irradiado pelo sol. Trata-se de um fenômeno natural, que assegura a manutenção da temperatura média do globo na faixa de 15ºC. Não fosse possível reter esse calor através dos gases que compõem a atmosfera, a temperatura média do planeta seria de 23ºC negativos, reduzindo-se drasticamente a presença da vida na Terra. O aquecimento global é o agravamento do efeito estufa, causado principalmente pela queima progressiva de petróleo, carvão e gás, que gera inúmeros problemas à Humanidade através das mudanças climáticas. Por fim, somos animais de sangue quente graças ao trabalho ininterrupto de um poderoso músculo do tamanho de uma mão fechada, que irriga vida para todas as partes do corpo humano. O coração é a grande usina de calor do organismo, símbolo maior do amor e da nossa capacidade de doar, de nos entregar e de manifestar os mais nobres sentimentos.

O ar é o elemento mais urgente para a nossa existência. Podemos passar vários dias sem ingerir alimentação sólida, um número menor de dias sem líquidos, mas apenas alguns poucos instantes sem ar. Na milenar tradição mística da Índia, o prana – ou força vital – é absorvido através da respiração. Numerosas práticas de meditação preconizam a necessidade de respirarmos com consciência, entendendo a inspiração e a expiração como importante ferramenta de troca de energia com o meio que nos cerca. A respiração profunda regula o batimento cardíaco, harmoniza os centros de força (ou chacras) que acumulam e distribuem a energia vital, ajuda a clarear o raciocínio e a apaziguar as emoções.

Considerando a importância estratégica de todos esses elementos para nossas vidas, é forçoso reconhecer que sem água potável, terra fértil, ar respirável e incidência adequada de luz e calor nosso projeto evolutivo encontra-se ameaçado. As condições cada vez menos acolhedoras de nossa casa (oikos) tornam o ambiente hostil à vida humana por nossa própria imperícia, imprudência ou negligência. Sofremos as consequências dos estragos que determinamos ao meio que nos cerca porque, na verdade, o que está fora também está dentro. Não é mais possível separar a Humanidade do planeta. “O meio ambiente começa no meio da gente”(9).

No Capítulo X de A Gênese, Allan Kardec ratifica este princípio comum ao dizer que “são os mesmos elementos constitutivos dos seres orgânicos e inorgânicos, que os sabemos a formar incessantemente, em dadas circunstâncias, as pedras, as plantas e os frutos”(10) . O que vale para o corpo físico também vale para a substância que envolve o Espírito, como aparece explicado no primeiro capítulo de O Livro dos Espíritos. É o que na doutrina se convencionou chamar de perispírito.

  1. De onde tira o Espírito o seu invólucro semimaterial?

R: Do fluido universal de cada globo, razão por que não idêntico em todos os mundos. Passando de um mundo a outro, o espírito muda de envoltório, como mudais de roupa.

– Assim, quando os espíritos que habitam mundos superiores vêm ao nosso meio, tomam um perispírito mais grosseiro?

R: É necessário que se revistam da vossa matéria, já o dissemos(11).

Esse fluido cósmico universal – matéria-prima de tudo o que existe – assume diferentes formas e texturas na exuberante rede de sistemas que se desdobram pelo universo. Somos todos, essencialmente, feitos da mesma coisa. A compreensão dessa realidade poderá determinar o aparecimento de uma nova ética existencial, onde nos reconheçamos como parte do Todo, e não a razão pela qual o universo existe.

Senso de urgência

“A evolução não dá saltos” é outra frase recorrente entre espíritas e ecologistas para explicar o peculiar timing, invariavelmente vagaroso, no qual se desdobra o processo evolutivo. Mas o fato é que espíritas e ecologistas têm motivos de sobra para recomendar a aceleração do passo na direção da mudança.

Os ecologistas denunciam o risco do colapso na capacidade de suporte do planeta em atender às atuais demandas de matéria-prima e energia da humanidade. Inúmeros relatórios científicos produzidos por organismos multilaterais da ONU (Pnuma e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – Pnud), organizações não-governamentais como a Worldwatch Institute ou o World Wildlife Fund (WWF), cartas abertas assinadas por personalidades laureadas com o Prêmio Nobel, entre outras fontes de prestígio e credibilidade, consideram esse risco iminente se não corrigirmos o rumo desde já. Alguns estudos indicam que, se nada for feito, se permanecermos sem as mudanças estruturais necessárias, essa ruptura poderia acontecer aproximadamente em 2050.

Os espíritas informam que o processo de evolução do planeta Terra – que deixará de ser um mundo de provas e expiações para se afirmar como um mundo de regeneração – está em pleno curso e vai provocar mudanças importantes na vibração do orbe, o que significa que só permanecerão por aqui aqueles que vibrarem em frequência compatível.

Há sempre os que esperam uma intervenção direta da Divindade em favor dos humanos, resolvendo como num passe de mágica todos os nossos problemas. Evocam-se certas atribuições de Deus – “infinitamente bom, justo e misericordioso” – para nos redimir enquanto espécie neste momento de crise. Cabe aqui uma reflexão importante sobre a expectativa que devemos ter de Deus para socorrer a nós, que fomos feitos “à imagem e semelhança do Pai”, neste momento difícil. Se é verdade que a “Providência Divina” nunca nos abandona, também é verdade que nossas escolhas são soberanas e determinantes do destino que teremos. A função do livre-arbítrio é conferir a cada ser humano o mérito – ou o demérito – de suas escolhas, sendo cada um de nós responsável direto pelo seu próprio processo evolutivo. Sempre amparados e protegidos por Deus, acompanhados de perto por nossos guias e mentores espirituais, cada um de nós assume perante a Lei a responsabilidade pelas escolhas que fazemos. A título de exemplo, se o Espiritismo, bem como todas as religiões, condenam o suicídio por entenderem o auto-extermínio como uma afronta às leis de Deus, a prática do suicídio depende exclusivamente da vontade de quem o pratica (ou, em alguns casos, também da influência espiritual exercida por desencarnados que acompanham o suicida). Ele, o suicida, é o responsável direto pelo retorno precoce à pátria espiritual, arcando com as consequências, invariavelmente nefastas, dessa escolha.

Se entendemos que as escolhas coletivas da Humanidade têm determinado a exaustão dos recursos naturais não-renováveis do planeta, e que isso se volta contra nós a ponto de ameaçar diretamente a nossa sobrevivência, a já mencionada expressão “ecocídio” faz sentido, e se aplica à realidade presente. Se o suicida escolhe matar o corpo, e isso acaba acontecendo pela vontade de seu livre-arbítrio, o mesmo poderia acontecer coletivamente se nossas escolhas enquanto espécie não forem repensadas, se não empregarmos tempo e energia suficientes na solução desses problemas, causados por nós mesmos. Hoje, apesar de amplos e detalhados diagnósticos sobre a situação cada vez mais precária dos ecossistemas, não se percebe um senso de urgência que oriente a tomada de decisão no rumo certo.

E Deus nessa história? Bem, o Deus que protege e ampara é o mesmo que delega funções e atribuições. Em uma linguagem típica dos mercados, Deus “terceiriza”, e confiou o planeta à tutela dos homens.  Será que estamos devidamente mobilizados para enfrentar esses problemas? No livro Desmistificando o Dogma da Reencarnação, o físico, mestre e doutor em Engenharia pela USP, Wladimyr Sanches, lembra que:

O desafio de enfrentar problemas cruciais para a manutenção da vida biótica na Terra é um meio de se acabar com o marasmo em que a sociedade atual vem se acomodando. É preciso ver e temer o perigo, de perto, para que as soluções brotem, com esforço coletivo, já que o perigo é inerente a todos e não apenas a alguns países(12).

A boa notícia é que dispomos de suficiente conhecimento e tecnologia para mudarmos o curso da História na direção que interessa. Mas será que é isso que realmente desejamos?

(1) KARDEC, Allan. A Gênese. 26. ed. Tradução de Guillon Ribeiro. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1984.(2) CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida. São Paulo: Cultrix, 1996. p. 26.(3) BOFF, Leonardo. Espiritualidade. In: TRIGUEIRO, André (Coord.) Meio ambiente no século 21. 5. ed. São Paulo: Autores Associados, 2008, p. 42.(4) KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, op. cit., p. 265.(5) EMMANUEL (Espírito). O Consolador. 21. ed. Psicografia de Francisco Cândido Xavier. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1999, p. 40.(6) Esta idéia está presente na frase “Tudo está cheio de deuses”, atribuída a Tales de Mileto, considerado o primeiro filósofo grego (625-558 a.C.), para quem o universo é dotado de animação, de matéria viva (hilozoísmo).(7) SANTOS, Jorge Andréa dos. Energias Espirituais nos Campos da Biologia. Rio de Janeiro: Cia. Editora Fon-Fon e Seleta, 1971, p. 28.(8) ÁUREO (Espírito). Universo e Vida. 2. ed. Psicografia de Hernani T. Sant’Anna. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1987, p. 48.(9) Esta frase, que se tornou uma das máximas populares do movimento ambientalista  e virou slogan do Jornal Folha do Meio Ambiente, é do poeta e jornalista brasiliense Tetê Catalão.(10) KARDEC, Allan. A Gênese, op. cit., p. 197.(11) KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, op. cit., p. 82.

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