Encontro com Jesus há dois mil anos
Geraldo Campetti Sobrinho
Há dois mil anos é um romance espírita psicografado por Francisco Cândido Xavier, de autoria do Espírito Emmanuel, publicado pela Federação Espírita Brasileira na sua primeira edição em 1939.1
É um livro singular que traz como subtítulo a narração de “episódios da história do Cristianismo no século I”.2
Integra a épica coleção dos romances de Emmanuel constituída também por: Cinquenta anos depois; Ave, Cristo!;Paulo e Estevão; e Renúncia.
A obra conta os principais fatos da vida do senador romano Publio Lentulus, uma das encarnações do autor espiritual, destacando três situações marcantes: o encontro do senador com Jesus; a cura, pelo Divino Mestre, de sua filha Flávia, que havia contraído a hanseníase; e a conversão de sua esposa Lívia ao Cristianismo.
Após muito titubear, o senador, por sugestão de sua esposa, decidiu procurar o Mestre.
“ – Senador, por que me procuras?” Com essa crucial indagação, o Senhor inicia o sublime encontro. E prossegue, tocando as fibras mais íntimas do coração do orgulhoso patrício: “– Fora melhor que me procurasses publicamente e na hora mais clara do dia, para que pudesses adquirir, de uma só vez e para toda a vida, a lição sublime da fé e da humildade…”
O significativo diálogo com Jesus foi inesquecível. Era como se o Senhor se dirigisse a cada um de nós e não apenas ao senador.
Procurar o Senhor “à noitinha” traduz a conotação de se dar prioridade a tudo o que é material antes de se sintonizar com as questões transcendentes da Espiritualidade. É optar pelo transitório ao permanente, pelo ilusório ao verdadeiro, pela sombra à luz, pelo sofrimento à felicidade, mesmo que esse testemunho pessoal e intransferível nos exija o serviço íntimo de abnegação, desprendimento e renúncia, indispensável ao processo ascensional do espírito rumo à perfeição relativa que lhe está destinada.
Utilizando-se de sua indelével autoridade de Mestre, emprega uma firmeza serena para despertar o “homem velho” de suas amarras inferiores, oferecendo-lhe o tempo necessário em consonância com a vontade do aprendiz: “– Mas, eu não vim ao mundo para derrogar as leis supremas da Natureza e venho ao encontro do teu coração desfalecido…” foi como o iluminado galileu prosseguiu em sua sublime narrativa.
A atmosfera de elevação era extasiante e o homem público ficou pensando que tudo aquilo poderia ser um sonho, quando o Senhor o chamou à realidade. “– Não, meu amigo, não estás sonhando…” admoestou. “– Depois de longos anos de desvio do bom caminho, pelo sendal dos erros clamorosos, encontras, hoje, um ponto de referência para a regeneração de toda a tua vida”.3
Que coisa extraordinária! Jesus é o nosso ponto de referência a indicar claramente os valores que devemos adotar para a conquista da felicidade e saúde integral, para a regeneração de nossa vida.
Como a revelar a profunda sabedoria de quem conhece o homem ainda apegado ao convencionalismo terreno, pronunciou as significativas palavras: “– Está, porém, no teu querer o aproveitá-lo agora, ou daqui a alguns milênios…”
Pelo relato da obra, a recuperação de Flávia iniciou-se no momento em que Publio dialogava com Jesus. O Messias opera a cura da jovem a distância, utilizando-se de seu potente magnetismo, mais em decorrência da fé de sua esposa Flávia e Ana, sua criada, que propriamente pela intercessão do senador. Este, inclusive, não aceita que a melhora da filha tenha decorrido da intervenção divina do profeta de Nazaré. Ao se referir ao ocorrido, optou pelas exigências fugazes das convenções humanas, suscitadoras da incredulidade, a admitir a intervenção divina.
Foi, realmente, necessário mais de um milênio para que esse Espírito exemplar pudesse consolidar sua jornada evolutiva. Precisou atravessar a fieira de algumas encarnações de dolorosas experiências para acordar, em definitivo, após longo tempo, para a realidade da vida imortal.
A significativa obra Há dois mil anos destaca duas virtudes essenciais ao processo evolutivo do Espírito em busca da felicidade integral, já vivenciadas por personagens do livro à época de Jesus: fé e humildade.
Emmanuel conquistou essas virtudes ao longo de sua trajetória evolutiva. A esse Espírito Amigo somos muito gratos pelo trabalho incansável de evangelização espiritual do Brasil.
A aludida obra-prima da literatura espírita, resultante da psicografia do cândido Chico Xavier, nos faz refletir em definitivo sobre a seguinte questão: De quanto tempo ainda necessitaremos para o real encontro com Jesus na intimidade de nosso coração de tal forma que sejamos efetivamente despertados para os elevados valores da transcendência espiritual?
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