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Publicado em 21 de agosto, 2021 | por Centro Paz e Amor

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O primeiro poema espírita publicado no Brasil

Por Elaine Maldonado

Desde a chegada do espiritismo ao Brasil, por volta de 1865, os adeptos da doutrina fizeram uso na imprensa para divulgar sua doutrina, fato que persiste até hoje e faz das publicações espíritas um dos setores que mais cresce no mercado editorial brasileiro.

Em 14 de fevereiro de 1871, o poeta Octaviano Hudson publica no jornal A República o poema “Espiritismo”.

Este jornal era bastante liberal para a época e abriu suas portas, digo, páginas, às novas correntes de idéias surgidas no século XIX. Como o próprio nome já indica, seus colaboradores apoiavam o fim da monarquia e lutavam pela instalação do novo regime.

Entre os jovens defensores da implantação da República havia vários espíritas e simpatizantes. Em 1870, dos 58 signatários do Manifesto Republicano, dois eram declaradamente espíritas: Bittencourt Sampaio e Octaviano Hudson, autor do poema Espiritismo. Entre os simpatizantes podemos citar Quintino Bocaiúva, que se tornaria espírita anos depois e o jornalista Saldanha Marinho, dono do jornal A República e responsável pela abertura de suas colunas ao tema espiritismo.

Ali, nesse órgão republicano, conviviam Saldanha Marinho, Antônio Silva Neto e Bittencourt Sampaio, entre outros intelectuais. Segundo Ubiratan Machado, nem só de ideais republicanos se falaria ali:

Nas conversas de redação e nas reuniões republicanas, os três moços, forçosamente, conviveriam. E nem só da sonhada queda da monarquia e da abolição da escravatura se falaria. Todos eram intelectuais abertos aos problemas contemporâneos, mas nenhuma deles revelou jamais qualquer monomania republicana, Assim, os assuntos tratados seriam muitos. Inclusive, o espiritismo. [1]

Bittencourt Sampaio, aliás, foi um dos maiores divulgadores da doutrina espírita e um médium receitista de respeito.

Com liberdade de tratar sobre qualquer assunto no grupo, Octaviano Hudson aproveitou as páginas de A República para publicar seu poema.

Transcrevemos abaixo este que foi o primeiro poema espírita publicado no Brasil.

 

Silêncio! Cantam os anjos

Nos degraus do trono santo?

Enquanto as almas errantes

Derramam dolente o pranto!

 

Não tenho a luz que iluminou a mente

Ardente e lúcida de teu irmão poeta

Sei, que morrendo se esvaiu com ele

Nas glórias pátrias a famosa meta.

 

Embalde tentas me chamar a campo

Donde me acho a repousar dormente

Alma ilustrada, associada a outras

Comigo o fado lamentou e sente.

 

Foi do Eterno receber no seio

O santo preço do sofrer na Terra,

Arca de dotes de harmonias caras,

Sua alma pura no Empíreo encerra.

Dos astros que luzem

Com tanto esplendor,

Eu sou soberano,

Sou astro de amor!

 

 

Nas almas

Mais calmas

Impera constante

Meu ser cintilante!

 

E qual sensitiva

Que furta-se a mão

Medrosa e esquiva,

Assim do vivente

Meu rosto amoroso

Se vela fulgente!

 

Não se sabe se este poema criou polêmica entre os leitores do jornal nem se houve resposta à sua publicação mas, sabemos que à medida que a divulgação e o número de adeptos da doutrina aumentou, aumentaram também as críticas, muitas delas publicadas nos jornais da época. Sobre este assunto, porém, trataremos em artigo próximo.

Paz!



[1] MACHADO, Ubiratan. Os Intelectuais e o Espiritismo: de Castro Alves a Machado de Assis, Niterói: Lachartre, 1996, p. 113.

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